Agência Minas Gerais | Em Minas Gerais, médica transplantada reforça importância da doação de órgãos

Carolina Oliveira Santos sempre sonhou em salvar vidas. Formada em medicina em 2018, ela atendeu como plantonista, foi atuar no Sul do país, começou residência em urgência e emergência. Mas a vida tinha outros planos: no último daquele ano, a médica começou a sentir sintomas estranhos. Ao procurar atendimento, um ultrassom revelou uma condição grave: insuficiência cardíaca hipertrófica, doença caracterizada por um aumento no ventrículo esquerdo.

Apesar da gravidade, Carolina respondeu bem às medicações nos primeiros anos. Manteve a rotina, trabalhou – até que uma gravidez trouxe à tona uma piora repentina e intensa. “No quarto mês de gestação, fiquei muito grave. A pressão ficou inaudível, comecei a vomitar sem parar, sem conseguir me alimentar. Fui direto para a emergência”, relembra.

Carolina perdeu o bebê e viu seu coração descompensar. As medicações já não eram suficientes. Ela, que já estava na espera pelo órgão, foi para o início da fila com a piora de seu quadro.

O coração chegou em maio de 2024 e, desde então, Carolina tem um novo olhar sobre a vida. “Se eu estou aqui hoje, é porque alguém disse ‘sim’. Um gesto de amor, de generosidade. Eu agradeço todos os dias a essa família”, emociona-se.

 

Omar Lopes Cançado, diretor do MG Transplantes / Francis Campelo

Avanços e desafios na captação

Segundo o diretor do MG Transplantes, Omar Lopes Cançado, o cenário da doação de órgãos em Minas Gerais vem melhorando desde a pandemia, mas ainda há obstáculos a superar.

“Já captamos mais do que no período pré-pandêmico, mas ainda precisamos aumentar diante da demanda que temos”, afirma.

Hoje, cerca de 4,1 mil pessoas aguardam por um órgão no estado e mais de 4,4 mil esperam por uma córnea. Para melhorar esse quadro, o MG Transplantes tem atuado em múltiplas frentes, como campanhas de sensibilização, capacitação de profissionais de saúde – tanto no diagnóstico da morte encefálica quanto na abordagem humanizada às famílias de possíveis doadores – e parcerias com consórcios de saúde para viabilizar a realização de exames complementares em locais onde esses recursos não estão disponíveis.

“Minas é um estado muito grande e diverso. Precisamos expandir o diagnóstico de morte encefálica e aumentar a notificação de potenciais doadores nos hospitais”, explica Omar.

Conscientização

O diretor destaca ainda um dado: “Temos dez vezes mais chance de precisar de um transplante do que de sermos doadores”. Isso significa que, mesmo que o tema pareça distante, qualquer pessoa pode um dia depender da solidariedade de outra para continuar vivendo.

“Quem está na fila não consegue mais ter uma vida normal. São pacientes que dependem de aparelhos e de medicamentos. Quando recebem o órgão, têm a chance de recomeçar: voltam a trabalhar, a viajar, a viver plenamente”, completa Omar.

Carolina segue em recuperação e, agora, com um novo propósito: falar sobre a importância da doação de órgãos e ajudar a reduzir a fila de espera. “A gente só entende o que é isso quando está do outro lado. Por isso, eu faço questão de falar: converse com sua família, diga que você quer ser doador. Uma conversa pode salvar muitas vidas”, conclui.