Fotos: Isabely Sete (programa de estágio)
O momento em que uma criança ou adolescente recebe diagnóstico de câncer é, sem dúvida, uma situação difícil para toda a família. Significa que esse pequeno paciente permanecerá em tratamento por um período indeterminado e, mesmo após remissão, ou seja, a superação da doença, precisará continuar sob o monitoramento da equipe de saúde, com visitas regulares ao hospital, em média por até cinco anos. Mas durante o tempo em que precisa permanecer no ambiente hospitalar, sejam internados ou em observação, os pacientes atendidos pelo Hospital do Grupo de Pesquisa e Assistência ao Câncer Infantil (Gpaci), em Sorocaba, podem contar com suporte especial na área educacional: a Classe Hospitalar. É como ter professores pessoalmente dedicados, ou mesmo uma escola particular, direcionada às necessidades pedagógicas específicas de cada criança, só que dentro do hospital.
A Classe Hospitalar resulta de convênio entre o Gpaci, instituição de referência no tratamento do câncer infantil, e a Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria da Educação (Sedu). A parceria, firmada em 2012, segue atuante e com contrato renovado pela atual Administração Pública. O convênio permite que toda criança ou adolescente, em idade escolar e atendidos pelo hospital, recebam, no mesmo local, acompanhamento escolar personalizado e alinhado ao currículo escolar seguido pela instituição onde estuda.
“Esse serviço é um direito da criança, garantido constitucionalmente, e permite aos atendidos pelo Gpaci que continuem estudando e se desenvolvendo pedagogicamente. Fazemos contato com a escola de cada aluno e damos continuidade ao que estava aprendendo na escola. Mesmo nos casos em que há alguma demora da escola em nos retornar com o plano de estudos, oferecemos atividades escolares adequadas à sua idade e nível escolar, até a escola se organizar e encaminhar o material solicitado”, relata a professora da Classe Hospitalar do Gpaci, Edilaine Rehder.
Além de Sorocaba, o Gpaci atende mais 47 municípios. Mas Sorocaba conta com um andar inteiro da instituição. Atualmente, existem 62 crianças matriculadas na Classe Hospitalar, mas o número de crianças atendidas é praticamente o dobro, aproximadamente 112 crianças, por incluir aquelas que estão em acompanhamento pós-internação.
“Acredito que a Classe Hospitalar seja como um impulso de vida para essas crianças. Pois é o que fica para elas, dentro do hospital, de mais parecido com o que elas tinham anteriormente ao diagnóstico e tratamento. E vemos que elas, por mais debilitadas que estejam, pedem a participação do professor. É como se as aulas significassem a expectativa delas voltarem para a rotina normal”, avalia outra professora desse serviço, Patrícia Lopes Ramos Publio.
A seu ver, a experiência é o melhor guia para um trabalho envolto em delicadezas e desafios. Patrícia acumula mais de três décadas de ensino, enquanto Edilaine tem mais de 25 anos de atuação na área pedagógica. Ao longo desse tempo, são muitas as histórias.
A garra das crianças, diante da adversidade, não costuma ser exceção, mas uma realidade comum aos pequenos estudantes da Classe Hospitalar. Muitos não apenas retomam a rotina de estudos, mas evoluem de forma exemplar, destacando-se no retorno à escola. “Vemos essa dedicação e também a valorização dos professores, por parte dessas crianças e das famílias. Algo bem diferente do que ocorre atualmente, nas escolas, onde professores, muitas vezes, são desrespeitados”, compara Patrícia.
Evelin Melissa de Araújo, psicóloga e coordenadora do Espaço das Famílias, na Pediatria Geral de Sorocaba, participa das ações da Classe Hospitalar proporcionando suporte emocional não apenas para os pacientes, mas também aos familiares e demais profissionais desse serviço. “A Classe Hospitalar representa a normalidade na vida da criança no hospital. Além disso, quando retornam para a escola, sabe que estará par a par com seus coleguinhas. É muito diferente de quando não havia essa possibilidade e as crianças, invariavelmente, ficavam para trás”, resume.
Essa visão é endossada pelo diretor técnico do Gpaci, Dr. Gustavo Ribeiro Neves. “Esse acompanhamento escolar é muito importante porque a criança em tratamento de câncer pode ficar meses, às vezes até mais de dois anos internada. E ficar fora da escola todo esse tempo desmotiva e, na hora em que a criança precisa voltar para a escola pode ser muito ruim para ela. A Classe Hospitalar garante que mantenha o foco no aprendizado e, ainda, permite tirar um pouco da atenção delas somente ao tratamento”, diz o diretor.
“Sabemos que é relevante esta ação porque, quando a criança tem a oportunidade de voltar para a sala de aula, não estará atrasada em relação a seus coleguinhas”, completa o secretário da Educação, Clayton Lustosa, em reunião com os diretores da instituição, nesta terça-feira (1º). Ao seu lado também estava o diretor administrativo do hospital, Ricardo Diacov. “Esse serviço do Gpaci tem evoluído muito e é oferecido, além do município, em parceria com o Governo do Estado, permitindo um serviço de qualidade para todas as crianças aqui internadas”, acrescenta Ricardo.
Há poucos dias, um ex-paciente, hoje com 18 anos e concluindo o Ensino Médio, visitou o Hospital Gpaci e foi buscar contato com a equipe da Classe Hospitalar. Ele tinha sido cuidado ali, dos três aos cinco anos de idade. E, ainda, por mais um período, após a remissão da doença. Já crescido, foi buscar o contato e o apoio da equipe em outro momento difícil da sua vida, após a perda da mãe. É como se ali também estivesse parte de sua família. Aquela que fica junto e apoia, nos bons e maus momentos.
Em reconhecimento a essa relevância, o secretário da Educação de Sorocaba reafirma o compromisso de seguir oferecendo esse serviço aos pacientes do Gpaci. “Vamos dar continuidade a esse trabalho, tão essencial à saúde e à educação de nossas crianças”, ele conclui.