3ª edição do Fliparacatu celebra a escritora Ana Maria Gonçalves

Por MRNews

A imortal da Academia Brasileira de Letras Ana Maria Gonçalves será, ao lado do escritor português Valter Hugo Mãe, homenageada da terceira edição do Festival Literário de Paracatu (Fliparacatu), em Minas Gerais.

Mineira de Ibiá, município da região do Alto Paranaíba, Ana Maria é autora de Um defeito de cor, clássico moderno que narra a história do Brasil através da perspectiva de mulheres negras: Kehinde, a personagem central do livro, e a própria Ana Maria.

“Eu falo que Um defeito de cor não é a história negra. Não é a história da escravidão. É a história do Brasil contada a partir do ponto de vista de uma mulher negra e, a partir desse ponto de vista, ela é universalista, né? E é universalizante”.

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A escolha de Ana Maria como homenageada foi feita antes da eleição para a Academia Brasileira de Letras. Bianca Santana, uma das curadoras do festival deste ano, conta que a escolha sempre se dá por escritoras e escritores relevantes na literatura e que têm “relação profunda com o nosso tempo”.

Para ela, a homenagem não é apenas um tributo, mas um convite ao público para ler ou reler as obras de Ana Maria Gonçalves e Valter Hugo Mãe.

“A escolha de Ana Maria Gonçalves foi anterior à eleição para a ABL. Isso mostra a força e a relevância da obra de Ana Maria e da importância dela como escritora. Quando soubemos da eleição, sentimos uma alegria redobrada: por ela, pela literatura brasileira e pelo Fliparacatu, que já tinha preparado essa homenagem. Para mim, como curadora, foi muito emocionante ver a autora de Um defeito de cor ser a primeira mulher negra eleita para a ABL”, diz Bianca. 

Imortal da ABL

Ana Maria foi a primeira mulher negra eleita para a Academia Brasileira de Letras, em 128 anos de existência. Ela vai ocupar a cadeira 33 da ABL, sucedendo o gramático Evanildo Bechara. Com 30 dos 31 votos possíveis, Ana Maria se tornou a 13ª mulher a ser eleita e, de acordo com a ABL, a quinta do quadro atual de Acadêmicos.

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A escritora avalia que a eleição para a Academia pode ser uma entrada muito interessante nessa nova etapa da vida e do livro, que já foi enredo de samba do carnaval do Rio e tema de exposição.  

“Eu acho que a minha eleição vem num aceno muito interessante da ABL, que é de se aproximar mais do que eu acho que é o povo brasileiro. O povo que fala essa língua e torna essa língua viva. Então, eu estou querendo trabalhar muito. E ter um papel lá dentro nesse sentido, de provar que ABL é uma instituição que, por mais centenária que seja, que se remova e que está aberta e acessível para qualquer pessoa que fale a língua portuguesa”.

Ana Maria ainda diz que o seu desejo, quando da candidatura à ABL, era ser a primeira mulher negra, mas não a única.  

“Qualquer instituição que está representando algo que é um bem coletivo, como é a língua, precisa de uma representatividade que seja proporcional aos falantes dessa língua que ela representa, né? Então, sim, que tenhamos lá muito mais indígenas, muito mais pessoas negras, principalmente, porque a gente vem produzindo no Brasil, ultimamente, uma literatura de muita qualidade”, diz a escritora.  

Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu. Foto: Fliparacatu/Divulgação

Fliparacatu

O Festival Literário de Paracatu começa nesta quarta-feira (27) e vai até domingo. Serão mais de 60 escritoras e escritores, em encontros norteados pelo tema “Literatura, Encruzilhada e a Desumanização”.

“Vivemos tempos de escolhas difíceis, de múltiplos caminhos possíveis, e a  encruzilhada nos ajuda a refletir sobre isso. Ao mesmo tempo, estamos diante de processos de questionamento das noções de humanização e desumanização, mas também da violência contra corpos negros, indígenas, femininos e dissidentes. O tema nos provoca a olhar para nossas feridas, mas também a pensar na literatura como espaço de cura, resistência e reinvenção do humano”, explica Bianca Santana.

Nas mesas, estarão nomes como Jeferson Tenório, que também foi curador do Festival, Afonso Borges – idealizador e presidente do Fliparacatu, Carla Madeira, Eliana Alves Cruz, Eugênio Bucci, Fernanda Takai, Trudruá Dorrico e Zeca Camargo. Também estará presente Cibele Tenório, pesquisadora e jornalista da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).   

Segundo Bianca, o tema será atravessado, durante as mesas, em diferentes chaves: memória, identidade, fronteira, violência, resistência, mas também festa, afeto e imaginação.

“Articulamos autoras e autores que trazem experiências diversas e que, juntos, podem ampliar reflexões. O público pode esperar encontros intensos, diálogos surpreendentes e muita potência criativa”.

Além das mesas, o Fliparacatu conta com intensa programação infantil ao longo dos dias, lançamento de livros, programação com autoras e autores da região, sessões de autógrafo, maratona de leitura, prêmio de redação, que mobiliza estudantes da cidade, e oficina de escrita com o jornalista Zeca Camargo.

Serviço:

3.º Fliparacatu – Festival Literário Internacional de Paracatu

Data: 27 a 31 de agosto de 2025, quarta a domingo

Local: Centro Histórico de Paracatu (MG) – Entrada gratuita